Perspetiva teóricas na
aquisição da Linguagem em Crianças Surdas
A criança surda, no que respeita ao desenvolvimento cognitivo
e à linguagem, não se pode efectivar senão graças a um conhecimento profundo
dos mecanismos que a criança ouvinte utiliza para atingir essas capacidades,
também é uma realidade que as crianças surdas constituem um grupo especialmente
importante para o estudo dos processos cognitivos assim como da relação entre o
pensamento e a linguagem.
Ø Relativamente aos estudos jeitos por
Vygotsky, Piaget e Chomosky podemos realçar os seguintes aspectos:
·
Quando
os surdos não têm acesso à linguagem o seu desenvolvimento cognitivo
apresenta-se a um nível que não ultrapassa o das operações mentais mais
elementares;
·
Quando
os surdos têm acesso à “ linguagem dos gestos “ os resultados obtidos são
superiores às expectativas muitas vezes tidas em relação a estas crianças;
·
Embora
pensamento e linguagem possam ser entidades distintas, é certo que se
influenciam mutuamente em questões de desenvolvimento cognitivo;
·
É
da maior relevância o papel que o meio ambiente desempenha na estimulação para
a aquisição de competências.
Desta forma estamos perante permissas muito importantes
vindas de autores cujo estudo não foi dirigido à problemática dos surdos, mas
este grupo foi muito útil para a elaboração de experiências e reflexões ligados
às dificuldades da Linguagem e atrasos do desenvolvimento cognitivo.
A
linguagem humana não está limitada ao som e ao ouvido uma vez que existem
outros sistemas de comunicação simbólica, passados de geração para geração, que
se tornaram em línguas autónomas e independentes na sua formação da língua
oral.
O
facto de as línguas gestuais usarem as mãos, a face e o corpo como processos articulatórios
em vez do tracto oral pôde levar a supor que se apresentavam completamente
diferentes das línguas orais e porventura lhes faltariam propriedades que são
utilizadas nas línguas orais.
Segundo
Poizner, Kilma e Bellugi:
· A característica mais acentuada da
linguagem é o apoio nos mecanismos espaciais para processar a sua estrutura
sintáctica;
· Devido à sua especialização para a
linguagem o hemisfério esquerdo encontra-se melhor adaptado do que o direito
para o processamento sequencial da língua oral;
· Existirá alguma possibilidade de a
língua gestual se encontrar representada nos dois hemisférios? Existindo, como
se torna possível o seu processamento?
· Poderá encarar-se a hipótese de que a
base de especialização do hemisfério esquerdo para a linguagem se encontra mais
ligada à função do que à forma?
Estas foram as questões essenciais levantadas por os autores
anteriormente referidos.
Posteriormente realizaram estudos e os resultados das sessões
efectuadas foram recolhidos em vídeo para posterior análise em equipa.
Os pacientes seleccionados foram seis dos quais três
apresentavam apenas uma lesão cerebral no hemisfério esquerdo e os outros três
apresentavam, cada um, apenas uma lesão cerebral no hemisfério direito.
Todos possuíam as seguintes características comuns:
Ø Eram destros antes da lesão cerebral;
Ø Receberam a sua educação em escolas
residenciais para surdos;
Ø Viviam com parceiros portadores de
surdez média ou profunda;
Ø Usavam a ASL como língua de
comunicação;
Ø Eram membros da comunidade surda.
Isto
significa que a pesquisa tendo como base a língua dos surdos representam um
avanço importante no que respeita às teorias modelares do cérebro, porém, somos
do parecer que ainda com a base na língua gestual, se poderão obter informações
da maior relevância sobre a forma como o organismo recebe e organiza os
estímulos que lhe são fornecidos pelo meio circundante, demonstrando a sua
plasticidade e consequente capacidade de adaptação.
Desenvolvimento Cognitivo
Pintner (1941) afirma que os surdos são
intelectualmente inferiores aos ouvintes em várias áreas da cognição:
inteligência, memória e pensamento abstracto, refere ainda as suas dificuldades
na compreensão, na comunicação e inter-relação social.
Myklebust (1964) os surdos apresentam um pensamento de
natureza mais concreta do que os ouvintes, as suas estratégicas de memorização
apresentam-se inferiores às dos ouvintes, possuem uma personalidade pouco
flexível e ainda uma fraca maturidade social.
Ø De uma geral todas pesquisas desta época
se pautam pelas diferenças do tipo quantitativo e qualitativo entre surdos e
ouvintes.
Ø Comparando o percurso das crianças
surdas com o das ouvintes os aspectos inatos encontram-se em igualdade de
circunstância, porém o que falta à grande maioria das crianças surdas foi a
envolvência com o meio que duplamente as marcou, o que impediu a aquisição da
linguagem e provocou um corte irremediável no seu desenvolvimento linguístico,
cognitivo e social.
Linguagem / Pensamento
Ø Emerge a certeza de que a ASL é uma
língua com todas as características de uma língua natural;
Ø Surge um grande interesse pela
comunidade surda e pela sua cultura;
Ø Existe finalmente, uma nova
consciência sobre as capacidades das pessoas surdas.
·
Parece,
então, existir um certo consenso de que factores de natureza fisiológica,
psicológica, social e cultural se conjugam para proporcionar num determinado
período de vida de um individuo, uma situação ideal para a aquisição da língua
materna, por outro lado, se a aquisição da primeira língua se processar fora
desse período é de esperar a ocorrência de perturbações no processo normal de
aquisição e desenvolvimento dessa língua.
É obvio que no decurso do estudo
sobre a aquisição da linguagem nos surdos não podem também deixar de ser
reflectida e devidamente enquadrada uma questão que vem emergindo nestes
últimos anos, e que se liga à importância da interacção e das estratégicas de
comunicação com a criança surda.
Trata-se de uma área cuja
investigação temos em curso e da qual, uma vez concluída, tenciona-se divulgar
os seus resultados.
Trabalho realizado por: Sofia
Carvalho
Carlos
GonçalvesLeonor Marques
Sem comentários:
Enviar um comentário