segunda-feira, 23 de abril de 2012

Perspetiva teóricas na aquisição da Linguagem em Crianças Surdas


Perspetiva teóricas na aquisição da Linguagem em Crianças Surdas

A criança surda, no que respeita ao desenvolvimento cognitivo e à linguagem, não se pode efectivar senão graças a um conhecimento profundo dos mecanismos que a criança ouvinte utiliza para atingir essas capacidades, também é uma realidade que as crianças surdas constituem um grupo especialmente importante para o estudo dos processos cognitivos assim como da relação entre o pensamento e a linguagem.

Ø  Relativamente aos estudos jeitos por Vygotsky, Piaget e Chomosky podemos realçar os seguintes aspectos:



·         Quando os surdos não têm acesso à linguagem o seu desenvolvimento cognitivo apresenta-se a um nível que não ultrapassa o das operações mentais mais elementares;

·         Quando os surdos têm acesso à “ linguagem dos gestos “ os resultados obtidos são superiores às expectativas muitas vezes tidas em relação a estas crianças;

·         Embora pensamento e linguagem possam ser entidades distintas, é certo que se influenciam mutuamente em questões de desenvolvimento cognitivo;

·         É da maior relevância o papel que o meio ambiente desempenha na estimulação para a aquisição de competências.

Desta forma estamos perante permissas muito importantes vindas de autores cujo estudo não foi dirigido à problemática dos surdos, mas este grupo foi muito útil para a elaboração de experiências e reflexões ligados às dificuldades da Linguagem e atrasos do desenvolvimento cognitivo.

Raízes biológicas do conhecimento


A linguagem humana não está limitada ao som e ao ouvido uma vez que existem outros sistemas de comunicação simbólica, passados de geração para geração, que se tornaram em línguas autónomas e independentes na sua formação da língua oral.

O facto de as línguas gestuais usarem as mãos, a face e o corpo como processos articulatórios em vez do tracto oral pôde levar a supor que se apresentavam completamente diferentes das línguas orais e porventura lhes faltariam propriedades que são utilizadas nas línguas orais.

Segundo Poizner, Kilma e Bellugi:



·      A característica mais acentuada da linguagem é o apoio nos mecanismos espaciais para processar a sua estrutura sintáctica;

·      Devido à sua especialização para a linguagem o hemisfério esquerdo encontra-se melhor adaptado do que o direito para o processamento sequencial da língua oral;

·      Existirá alguma possibilidade de a língua gestual se encontrar representada nos dois hemisférios? Existindo, como se torna possível o seu processamento?

·      Poderá encarar-se a hipótese de que a base de especialização do hemisfério esquerdo para a linguagem se encontra mais ligada à função do que à forma?

Estas foram as questões essenciais levantadas por os autores anteriormente referidos.

Posteriormente realizaram estudos e os resultados das sessões efectuadas foram recolhidos em vídeo para posterior análise em equipa.

Os pacientes seleccionados foram seis dos quais três apresentavam apenas uma lesão cerebral no hemisfério esquerdo e os outros três apresentavam, cada um, apenas uma lesão cerebral no hemisfério direito.

Todos possuíam as seguintes características comuns:

Ø  Eram destros antes da lesão cerebral;

Ø  Receberam a sua educação em escolas residenciais para surdos;

Ø  Viviam com parceiros portadores de surdez média ou profunda;

Ø  Usavam a ASL como língua de comunicação;

Ø  Eram membros da comunidade surda.



Isto significa que a pesquisa tendo como base a língua dos surdos representam um avanço importante no que respeita às teorias modelares do cérebro, porém, somos do parecer que ainda com a base na língua gestual, se poderão obter informações da maior relevância sobre a forma como o organismo recebe e organiza os estímulos que lhe são fornecidos pelo meio circundante, demonstrando a sua plasticidade e consequente capacidade de adaptação.


Desenvolvimento Cognitivo



Pintner (1941) afirma que os surdos são intelectualmente inferiores aos ouvintes em várias áreas da cognição: inteligência, memória e pensamento abstracto, refere ainda as suas dificuldades na compreensão, na comunicação e inter-relação social.



Myklebust (1964) os surdos apresentam um pensamento de natureza mais concreta do que os ouvintes, as suas estratégicas de memorização apresentam-se inferiores às dos ouvintes, possuem uma personalidade pouco flexível e ainda uma fraca maturidade social.



Ø  De uma geral todas pesquisas desta época se pautam pelas diferenças do tipo quantitativo e qualitativo entre surdos e ouvintes.



Ø  Comparando o percurso das crianças surdas com o das ouvintes os aspectos inatos encontram-se em igualdade de circunstância, porém o que falta à grande maioria das crianças surdas foi a envolvência com o meio que duplamente as marcou, o que impediu a aquisição da linguagem e provocou um corte irremediável no seu desenvolvimento linguístico, cognitivo e social.



Linguagem / Pensamento        


Stokoe despertou o interesse de linguísticas e psicolinguísticas americanas para a ASL. O primeiro período é principalmente marcado pelo desenvolvimento de estudos sobre a ASL em que, além de Stokoe, Bellugi, Klima e Poizner representam o paradigma de investigação ainda hoje seguido por muitos investigadores.

Ø  Emerge a certeza de que a ASL é uma língua com todas as características de uma língua natural;

Ø  Surge um grande interesse pela comunidade surda e pela sua cultura;

Ø  Existe finalmente, uma nova consciência sobre as capacidades das pessoas surdas.



·         Parece, então, existir um certo consenso de que factores de natureza fisiológica, psicológica, social e cultural se conjugam para proporcionar num determinado período de vida de um individuo, uma situação ideal para a aquisição da língua materna, por outro lado, se a aquisição da primeira língua se processar fora desse período é de esperar a ocorrência de perturbações no processo normal de aquisição e desenvolvimento dessa língua.

É obvio que no decurso do estudo sobre a aquisição da linguagem nos surdos não podem também deixar de ser reflectida e devidamente enquadrada uma questão que vem emergindo nestes últimos anos, e que se liga à importância da interacção e das estratégicas de comunicação com a criança surda.

Trata-se de uma área cuja investigação temos em curso e da qual, uma vez concluída, tenciona-se divulgar os seus resultados.



Trabalho realizado por: Sofia Carvalho
                                                  Carlos Gonçalves
                                                  Leonor Marques

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