sexta-feira, 27 de abril de 2012


A primeira parte deste video intitulado "Como é construir uma família no silêncio" é uma adaptação do texto " A aventura de um pai" presente no livro o "O gesto e a palavra". Aqui, pela voz da filha mais velha, é contada a história de vida do seu pai Fausto Sampaio como se de uma homenagem se tratasse.
Na segunda parte é retratada uma história verídica de uma família ouvinte, que se vê a braços com o nascimento de uma filha surda.    
Finalizamos com um poema de Willerd e Madsen que fala das dificuldades de uma pessoa surda.

Trabalho realizado por alunas do curso de TILGP 1º ano:
                                                                                        Filipa Silva
                                                                                        Lina Coelho
                                                                                        Marisa Canôa
                                                                                        Sílvia Raminhos

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Patinho feio ou cisne seguro de si? Surdez, comunicação e estima de fi mesmo

Comentário do texto:
Patinho feio ou cisne seguro de si?
Surdez, comunicação e estima de si mesmo
                                                                       Rosa Garcia
 

Quando olhamos para alguém que não conhecemos, mas que utiliza o gesto como forma de comunicação, não sabemos nada dessa pessoa. Ignoramos se é surda (ou ouvinte), se sempre o foi, se alguma vez ouviu, se sempre “falou com as mãos”, se sabe oralizar, como comunica com os outros que desconhecem a língua gestual, como olha para o mundo que a rodeia e/ou como o interpreta, entre outros aspectos.
Nascer surdo profundo e crescer numa família de ouvintes, ou crescer numa família onde a principal forma de comunicação é a língua gestual, poderá vir a revelar-se determinante na vida de um surdo. Assim como fará toda a diferença para um surdo adulto, ter nascido surdo profundo ou ter perdido a audição ao longo da vida e após a aquisição de uma linguagem.
São estes “pequenos” aspectos, muitas das vezes ignorados, que podem condicionar toda uma vida, pois a visão que um surdo tem de si mesmo e a avaliação que faz das suas capacidades, depende em grande medida da capacidade que tem para comunicar e se relacionar com os outros.
Um surdo não é alguém a quem falta algo para se desenvolver normalmente, não é alguém com problemas psicológicos resultantes da surdez, não é alguém impedido de comunicar. É apenas alguém que necessita, desde pequeno, quando ainda não tem capacidade de decidir por si próprio, que lhe sejam facultados os instrumentos que lhe permitam adquirir a forma de comunicação mais adequada à sua condição. Com essa ferramenta, o surdo é igual aos ouvintes, diferindo apenas no canal de comunicação, mas tendo a escrita como elemento de comunicação comum.
É através da comunicação que, quer os surdos quer os ouvintes, se avaliam os si mesmos e avaliam os outros, pelo que é determinante que relações de amizade, familiares ou outras se estabeleçam.
Qualquer criança quando nasce tem um elo de ligação muito próximo com a mãe e ambas comunicam mesmo sem que tenha existido uma aquisição prévia da fala. Assim, também a criança surda, comunica desde que nasce com a sua mãe. Fá-lo de forma visual ou através do tacto, exponenciando estes dois sentidos, em substituição da audição, enquanto que uma criança ouvinte reconhecerá a mãe também pelo som.
Para uma melhor compreensão daquilo que poderá ser a vida de um surdo com ou sem acesso à língua gestual, a autora faz uma analogia com a história do Patinho Feio.
Tal como a mãe do Patinho Feio, também a mãe da criança surda ama o seu filho, conseguindo comunicar com ele desde que nasce. Essa relação forte, intensa e recíproca que o bebé estabelece com a mãe impede, em alguns casos, que esta se aperceba precocemente da “diferença” do seu bebé, ou, apercebendo-se, consegue arranjar artifícios que fomentam a comunicação. Mas, apesar da relação mãe-bebé não sofrer qualquer beliscão devido à surdez, mais tarde tornar-se-á necessário alargar essa relação/comunicação à restante família, aos amigos, à sociedade em geral. É no momento em que aumenta o número de intervenientes na relação com a criança surda que surgem algumas questões que ganham maior relevo se a criança iniciar o seu percurso escolar sem nunca ter tido contacto com a língua gestual, pois foram vários os anos que ficou impedido de conviver, por se encontrar no meio dos que ouvem e falam.
A entrada na escola é para o surdo, o momento em que o Patinho Feio abandona a sua mãe e procura uma nova vida longe da sua asa e encontra “outros” iguais a si. Ao encontrar-se com outras crianças surdas e ao aprender língua gestual, o surdo pode sair do silêncio em que se manteve até então, ganhar esperança e acima de tudo, ganhar confiança em si e começar a relacionar-se com os outros de forma mais aberta, avaliando-se e avaliando-os. Ao comunicar com os outros, percebe que é capaz, que há quem o compreenda (para além da mãe) e que tem a capacidade de mudar os outros. Isso fá-lo-á gostar mais de si e acreditar que “pode tudo”.
Ao contrário de uma criança ouvinte, para o surdo profundo o som não funciona como método de comunicação, de avaliação, de expressão e avaliação de si mesmo. Numa fase inicial, o gesto é utilizado exclusivamente entre filho e mãe, contudo é substituído de forma natural pela aprendizagem de uma língua gestual, que será utilizada como meio de comunicação, caso o meio social lhe permita.
Não desrespeitando as competências do surdo, no processo de aquisição da língua falada deve valorizar a escrita, pois tal como a Língua Gestual, são ambas visual – motora. Contudo se um surdo profundo de nascença só tiver acesso à língua falada, este entrará em processo de exclusão. Tal como os ouvintes tem como referência a oralidade, para o surdo a sua referência é o gesto, o visível. A escrita, como vertente visual da língua falada, pode também ter um sentido para o surdo, e é a partir da escrita que os surdos e ouvintes podem considerar-se membros da mesma comunidade linguística. A escrita integra surdos e ouvintes num mesmo grupo, onde lhes é proporcionado a partilha de “sentires e sentidos” próprios de cada membro das distintas comunidades.
Assim sendo, a escrita é uma forma de inclusão do surdo profundo de nascença na comunidade ouvinte; onde a imagem visual é cada vez mais privilegiada. Então porque razão não se exige que um surdo profundo fale? O som não é algo natural num surdo profundo, é um sentido que este desconhece, assim seria uma injustiça para o mesmo defender que deveria utilizar o som como meio privilegiado de comunicação. Se não pararmos para pensar um pouco nesta questão, corremos o risco de entrarmos num caminho de exclusão violenta ao obrigarmos um surdo profundo de nascença a usar uma língua oral como meio de comunicação.
À nossa volta existe uma riqueza visual-motor que aos olhos de um ouvinte “passa ao lado”, contudo para um surdo essa riqueza é evidente. Um ouvinte ao deparar-se com uma língua visual-motor, cujo significado lhe é desconhecido, é evidente o desconforto de quem fala e ouve. Os pais ouvintes com filhos surdos sofrem com o seu desconhecimento sobre a surdez, sofrem com a falta de um instrumento de comunicação entre pais e filhos. Na oralidade cega não existe a partilha de sentido e desta forma o surdo corre o risco de ficar excluído do convívio com os outros e de nunca conseguir organizar um sentido de si mesmo, ou de não poder avaliar como alguém em contacto com os outros. O convívio é algo indispensável ao seu desenvolvimento.
O que precisa um surdo profundo de nascença para o seu desenvolvimento? No momento em questão um surdo ainda não tem idade de escolher, torna-se necessário que alguém escolha o caminho certo para ele. Contudo quem escolhe este caminho tem que fazer a escolha certa onde terá que ser prudente para lhe proporcionar o acesso a uma língua, assim como respeitar a particularidade da situação do surdo tendo em vista a realização plena do sentido e do potencial da vida. Embora seja uma minoria, as crianças surdas filhas de pais surdos que têm acesso à Língua Gestual no seio familiar, possuem um instrumento valioso que lhes permite alcançar o sentido e a expressão de si mesmo. Um surdo profundo de nascença, mesmo com o auxílio de meios artificiais (implantes coclear) nunca iria conseguir configurar o sentido do som que sempre lhe foi desconhecido, não lhe é natural. Quando não existe o acesso à Língua Gestual e à escrita, o surdo fica privado de se estruturar.

Actualmente, pretende-se que a escola seja um meio de inclusão, onde existem técnicos competentes e com características específicas, contudo é visível o sofrimento de um surdo profundo de nascença quando lhe é negado o uso da sua língua natural, a língua gestual. O convívio com os outros, sem o uso da língua gestual, não é suficiente para o seu desenvolvimento, pois é no seio da sua comunidade que se desenvolve a língua e a sua identidade. A equipa técnica existente na escola (psicólogos, terapeutas…) são bem-intencionados contudo esquecem o surdo na sua globalidade, uma vez que o surdo é visto como alguém a reabilitar e não como alguém com potencialidades. Não basta querer tornar o surdo um paciente modelo, pois este não é o meio de realização da pessoa surda. É necessário alertar para a visão parcelar que se tem do surdo, não se pode perder a noção que um surdo é uma pessoa inteira, una, com sentimentos, aspirações, desejos, necessidades e capacidades próprias.

A importância das experiencias significativas vivenciadas pelo surdo são importantes para que este olhe para si mesmo como alguém com capacidades. É importante que o técnico veja o surdo como um semelhante a si mesmo, olhar para este como alguém com capacidades de agir por vontade própria, capaz de ser autónomo, desta forma não devemos julgar o surdo pelas suas desigualdades.
O sujeito procura o sentido de si mesmo nas suas escolhas e apenas nós mesmos o podemos fazer. Sozinho o surdo fica sem condições de realizar trocas e partilhas humanas. Um amigo é aquele que ama o amigo por aquilo que ele é sem lhe exigir a perfeição. Sem a reciprocidade da amizade perde-se o equilíbrio das trocas humanas, o justo reconhecimento de si, do que há de bom em nós. Sem identidade entra-se num caminho de solidão, de deslocação, de fechamento do qual pode ser difícil sair. Para existir um diálogo de partilha são necessárias duas pessoas. Mesmo sem ânimo, o surdo prossegue a interpretação de si mesmo de forma a melhorar a sua vida. São através dos jogos comunicativos e do “faz de conta” que uma criança cresce e se desenvolve. O diálogo é o elemento principal para que este se encontre consigo mesmo.
Surdo ou ouvinte, é através dos outros que nos avaliamos e que nos estimamos a nós mesmos.

BISPO, M. et al (Coord.), O Gesto e a Palavra I – Antologia de textos sobre a surdez, Projecto AFAS, Lisboa: Editorial Caminho, S.A., 2006, pág. 313 – 337

Discentes: Andreia Alves e Sara Fulgêncio

trabalho


 


Gesto e a Palavra I
“Os Utilizadores de Língua Gestual e a Comunidade Surda” (Pág.83 a 108)
Markku Jokien


Docente: Luísa Carvalho
Discentes: Colleen Freitas, Joana Rodrigues e Sofia Ferreira



23 De Abril de 2012




Introdução

Nos últimos anos foram debatidos os conceitos de Falantes Nativos de Língua Gestual e utilizadores de Língua Gestual nas comunidades Surdas dos países nórdicos e EU.
Antes deste trabalho sobre os conceitos referidos anteriormente, foi dado a conhecer às autoridades a importância das Línguas Gestuais e de como são importantes para a comunicação dos surdos e dos seus direitos humanos, tendo o Parlamento Europeu solicitado os Estados Membros para que reconhecessem as Línguas Gestuais como oficiais nos seus países. Até hoje só a Finlândia e Portugal tem reconhecidas as línguas gestuais nas suas constituições.
Ao longo deste capítulo serão abordadas algumas questões importantes como, comunidade surda, falantes nativos de língua gestual, utilizadores da língua gestual, diferentes perspetivas sobre a utilização da língua gestual, identidades do falante de língua gestual, surdez e utilização da língua gestual.
É através da língua que se adquire toda uma cultura e o ser humano estrutura e interpreta o mundo e a sua relação com o lugar que ocupa.
Ir-se-á verificar que os falantes nativos de língua gestual, constituem um grupo muito heterogéneo, com muitos subgrupos, podendo serem encontrados a nível local e internacional. As suas identificações são fortalecidas através do desenvolvimento da tecnologia e da informação.
 A identificação da pessoa surda também é considerada como uma identificação social e pessoal. A comunidade surda é representada por organizações oficiais e não oficiais. O direito humano da comunidade surda ganha força a cada dia que passa, através da sua língua.
Um estudo psicossocial a um grupo de surdos Finlandeses, concluiu que este grupo tem utilizado a língua para se caracterizar e melhorar o seu estatuto. Para além da língua, utilizam definições, termos e expressões para manifestar as suas necessidades, bem como a vontade de se tornarem um grupo idêntico a outros.

“A comunidade surda “

Na Finlândia durante uma parte do séc. XX, a comunidade surda era encarada como não tendo cultura, em substituição a este termo, entre eles, usavam a expressão Surdo-Próprio-Mundo ou Mundo-Surdo-Próprio, que traduzida significa mundo dos surdos, (na ASL – American Sign Language, têm um conceito semelhante, Mundo-Surdo). O sentido destes termos usados pelos surdos deste país, trata um todo/uma entidade, não só constituída pela língua mas também por tudo que envolve esta comunidade, organizações, tradições próprias, etc. O facto de usarem a expressão acima mencionada deve-se a este povo querer se distinguir de um outro mundo, o dos ouvintes; também usavam outro termo em complemento ao acima mencionado, Próprio Modo HYY, (movimento da boca), significando “característico para nós” ou “tal como nós”, o uso destes termos entre eles era para mostrarem que têm hábitos e costumes, deles mesmos, do grupo.
Durante todo este período, esta comunidade quis mostrar de como a identidade deles era forte e determinada. Surge então no séc. XIX, vários clubes criados por estes, em 1946 a primeira escola de surdos, desde logo diziam “ O clube de surdos é como uma segunda casa”, era aqui que eles se sentiam únicos e próprios, podendo usar livremente a sua língua, a Língua Gestual Finlandesa; pois nas escolas a língua gestual era proibida, assim como os surdos foram proibidos de casar entre si, (1900-1970).
Uma outra expressão usada pelos surdos era a que designava os ouvintes, Ouvinte-Próprio-Mundo, pois estes tinham igualmente as seus costumes e que também formavam uma comunidade, forte e unificada. Pouco tempo depois alguns surdos e investigadores estudaram o conceito de Cultura, aplicando-o ao termo Mundo Surdo, assim gerou-se o interesse de estudar esta comunidade, criando-se assim, organizações sociais para servir esta comunidade e serviços de interpretação para a comunicação com o outro mundo, nesta época quando usavam a expressão Mundo Surdo referiam-se à Comunidade Surda, mas ainda não usada por toda esta comunidade de surdos finlandeses. Durante a década de 80 do séc. XX, este termo chegou ao nosso país através de uma formação chamada de Consciência Surda.
Nos EUA, segundo Baker and Cokely 1980: “ (…) a Comunidade Surda é constituída por membros surdos e com dificuldades auditivas que possuem uma língua, experiências e valores comuns e uma forma de interagirem entre si e com as pessoas ouvintes”.
De início sé se considerava os surdos profundos e parciais pertencentes à comunidade surda, pois trocavam experiências idênticas e usavam a língua gestual, uns anos mais tarde, também consideraram que pessoas que estivessem ligadas a esta comunidade activamente e partilhassem os mesmos pontos de vista também fariam parte dela.
Então, segundo o esquema apresentado (pág. 89, fig.1), sendo o maior grupo, 90% a 95% os surdos profundos e parciais que utilizam a língua gestual e têm pais ouvintes, que a língua gestual é a sua segunda língua ou que não a utilizam; o grupo minoritário, 5% a 10% é aquele em que há surdos filhos de pais surdos, sendo considerados o núcleo da comunidade surda em termos linguísticos, culturais e sociais, sendo os restantes elementos da comunidade as pessoas que trabalham com estes nativos de língua gestual, os pais ouvintes que têm filhos surdos, ou aqueles que têm interesse na língua e na comunidade em causa.
Os clubes existentes na Finlândia fazem parte das associações que trabalham a nível nacional.
Este estudo feito na Finlândia também faz referência à Espanha, pois aqui há três níveis: existem os clubes locais, as associações regionais e uma federação nacional para 1milhão de surdos, fazendo parte da União Europeia dos Surdos desde 1995, e também são uma das 123 associações filiadas na Federação Mundial de Surdos, estas situações são desconhecidas na comunidade ouvintes, também a nível desportivo fazem parte de algumas organizações mundiais, fazendo com que a língua gestual internacional não ponha barreiras entre os vários surdos de diferentes países e troquem as várias experiencias.
Existem cerca de 70milhoes de Surdos no Mundo, comunidade internacional maior que a população de muitos países. Este facto da troca de vivências entre os surdos de todos os países, faz com que se tornem mais fortes e mostrem os seus objetivos ao Mundo, que lutem para uma vida melhor e conquistem as suas metas, reforçando a identidade de cada surdo no mundo.
É preciso que haja respeito pela escolha de pertença a um determinado grupo, havendo ouvintes que dominam tão bem a língua gestual quanto um surdo, havendo por vezes dificuldades em saber se é ouvinte ou surdo, pois a atividade politica na comunidade surda não implica que sejam só surdos, se estes forem politicamente ativos são aceites, mesmo não sabendo a língua gestual.


“Diferentes perspetivas sobre a utilização da língua gestual”

Ao falarmos acerca das designações ligadas a um certo grupo, temos de ter em conta o ponto de vista ético, temos de ter atenção às opiniões dos membros do grupo, respeitando as designações que utilizam entre si, grupos, aquilo que estimam e valorizam.
No entanto, a maioria das pessoas não tem isto em conta, insistindo no termo ”surdo-mudo”, desconhecendo mesmo o termo falantes nativos da língua gestual. Grande parte das pessoas acha que surdo-mudo não é um termo insultuoso ou negativo, porém este, é antiquado e insultuoso, do ponto de vista dos falantes nativos da língua gestual, outro termo que acham adequado é “pessoa com deficiência auditiva”, equiparando, por vezes, ao termo surdo.
Contudo, “o termo surdo é considerado como mais adequado, mais próximo e afetuoso visto referir-se à comunidade surda e à sua cultura, do ponto de vista dos falantes nativos da língua gestual”.
Do ponto de vista legal a Língua Gestual Finlandesa tem estatuto condicional, garantindo-se desde 1995 os direitos dos falantes nativos da língua gestual, existindo em Portugal, África do Sul e Uganda um estatuto semelhante e de acordo com a nossa constituição, trata-se da Língua Gestual e não da Língua dos Surdos. Assim sendo, toda a discussão em volta do termo Utilizador da Língua Gestual e Falantes Nativo da Língua Gestual surgiu do estatuto constitucional e do significado da expressão. A utilização do termo falante nativo da língua gestual tem-se intensificado e tem sido utilizado pelas pessoas em diferentes contextos.
Quanto ao ponto de vista sociocultural é importante referir que a língua gestual não é apenas a língua mãe das crianças surdas, mas também de crianças ouvintes, pois a aquisição, domínio e a identidade desta língua não dependem do nível de audição e capacidade auditiva, mas sim do grau de língua gestual em que a criança está rodeada. A cultura surda Finlandesa, é uma longa tradição inseparável da língua gestual Finlandesa, através desta temos a grande oportunidade de obter e aprender o saber acumulado que foi transmitido ao longo de muitas gerações, realizando a pessoa surda, com a língua gestual temos acesso à história sobre o modo como viviam os surdos no século XX, vivenciaram as guerras e falavam com os ouvintes, o modo como inventaram ”campainhas de porta” e despertadores visuais; como frequentam escolas distantes das suas casas e viviam longos períodos em colégios internos; como viviam com a sociedade, opressão e vergonha da sua língua; a forma como a Língua Gestual Finlandesa se libertou e rivalizou; a força com que lutam pela sua língua. É através destas histórias que constroem a identidade enquanto falantes nativos da língua gestual.
Na Finlândia, para além de surdos, são muitas as pessoas que utilizam a Língua Gestual Finlandesa, averiguou-se cerca de 14 000 utilizadores de língua gestual, na prática os falantes nativos da língua gestual também são bilingues. Atualmente, na educação das crianças finlandesas, o multiculturalismo e o multilinguismo tornaram-se competências essenciais devido à rápida transformação do mundo.
No ponto de vista linguístico, todas as línguas gestuais são naturais a par das outras línguas, porém as línguas gestuais continuam a ser esquecidas no inventário das línguas. Esta língua é o “cimento” que alicerça os falantes nativos desta língua na comunidade, sendo que também desempenham um papel importante no crescimento e desenvolvimento individual, na construção de uma equilibrada personalidade.
A língua suporta em si a cultura, revelando-se através do conteúdo linguístico, enriquecida de símbolos culturais, as suas raízes apoiam-se na cultura que a alimenta. Os componentes da identidade social são a língua e a cultura. O individuo absorve em si a língua e esta passa a ser a sua pele, através da qual respira. Ao destruirmos a língua, destruímos a estrutura cultural e com ela a do individuo que nela se sustenta.
Concluindo, as provas e factos acerca da língua gestual, enquanto língua natural, por si só, não é o suficiente, pois as línguas gestuais continuam a sofrer de opressão no mundo inteiro. Os falantes nativos da língua gestual presenciam quotidianamente ao genocídio linguístico. Apenas uma pequena percentagem destes, em todo o mundo, recebe a sua educação em língua gestual.


 “Identidades do falante de língua gestual”

A língua desempenha um papel muito importante na definição da identidade cultural de cada pessoa, representa também a sua identidade social. Surdo e falante nativo da língua gestual são designações que incluem a língua gestual e a sua utilização como modo integrante do modo de vida do individuo. Segundo a comunidade surda Surdo é a pessoa com quem eles se identificam e vice-versa. Os sinais de identidade consistem na utilização da língua gestual, no conhecimento da comunidade surda e na utilização do espaço visuo-motor como meio de processamento de informação e interação entre as pessoas. O termo mais recente, falante nativo da língua gestual, coloca a tónica na língua e na sua utilização. Esta expressão remete-nos com maior definição para a identidade linguística.
O desenvolvimento/exercício da língua contribui para a caracterização do individuo: “língua gestual-surdo profundo, língua falada-surdo parcial”. Porém, sempre houve a existência de surdos profundos que não utilizavam a língua gestual e surdos parciais que o faziam.
O falantes nativos da língua gestual vivem sempre entre duas culturas, quanto mais profunda for a aquisição de ambas as línguas e culturas, mais preparadas estão a adaptar-se a elas permitindo-lhes utilizar eficientemente diversos tipos de ferramentas, códigos de conduta, símbolos culturais e seus significados. O falante nativo da língua gestual tem o mesmo tipo de experiências que os membros de outras minorias linguísticas e culturais. Muitos destes falantes “continuam a lutar contra todo o tipo de injustiças e a favor dos direitos humanos, assumindo-se como “combatentes pela liberdade””.

Ponto de vista étnico
A endogamia é muito comum entre os surdos. A surdez em si pode ser considerada como uma marca biológica (como a cor da pele nos negros), mas a utilização e a identificação com a língua gestual pode ser mais forte que a própria surdez. Na Finlândia o reconhecimento da língua gestual ajudou a comunidade surda a interagir com os ouvintes.
Os pais, bem como as pessoas mais chegadas das crianças, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da identidade individual e na criação da mesma para estas (crianças), sendo também importante o contacto com outras pessoas.
É através de conceitos e critérios que se reconhecem e distinguem grupos étnicos, o contributo destes grupos é decisivo, dando-lhes acesso a mecanismos que visam a proteção dos seus próprios direitos.


“Identificação com a deficiência?”

Tem-se verificado uma grande cooperação entre as pessoas com deficiência e pessoas surdas, pois estas ao longo da sua vida têm-se deparado com algumas dificuldades e entraves. Algumas destas dificuldades prendem-se como por exemplo o acesso à informação e à comunicação.
Existe algo que é bem latente na comunidade surda: os surdos não se sentem deficientes, pois enquanto possuírem uma língua rica, cultura e os meios de resolver outros problemas (exemplo sistema para falar ao telefone), sentir-se-ão realizados e completos enquanto cidadãos com os seus direitos plenos, no entanto, se a sociedade não respeitar e aceitar a sua cultura, a sua língua, a sua forma de estar, ser pressionado para reabilitação contínua (desde que nasce até morrer), então, sentir-se-ão como deficientes. 

A surdez e a utilização da língua gestual”

Existem estudos que comprovam que a utilização da língua gestual aumenta as competências espaço-visuais das pessoas ouvintes, comparativamente com as pessoas ouvintes que não utilizam a língua gestual.
De acordo com a afirmação anterior, pode-se verificar que a utilização da língua gestual é uma cultura visual, e não uma cultura de pessoas deficientes assente na perda de audição. Será importante relembrar que na fase inicial do desenvolvimento da criança, esta utiliza quase exclusivamente a visual-gestual e depois continua a apoiar-se neste tipo de comunicação após a transição para o canal oral-auditivo.
As crianças surdas não se sentem tristes pelo fato de o serem, são crianças felizes e satisfeitas consigo próprias, a menos que a sociedade envolvente as faça sentirem-se tristes e as façam sentir-se como diferentes. Note-se que a surdez apenas é uma das inúmeras caraterísticas humanas que podem transportar um conteúdo cultural, tendo por base uma língua.