Resumo
“ Gesto e a Palavra I”
Língua
Gestual – uma opção ou um direito?
Texto de Paula Estanqueiro
Este resumo, do texto de Paula Estanqueiro, tem 4 temas, e que refectem as problemáticas da Educação do Surdo.
O meio menos restritivo na educação de Surdos
Sub-temas:
- A Educação das crianças surdas no ensino escolar;
- A criança surda – quem é?
- A Família e a Educação
Numa primeira abordagem, até há pouco tempo os
docentes especializados no ensino especial assumiam a oralidade, um fator
indispensável para a educação de uma criança portadora de surdez, esta situação
do desenvolvimento da oralidade imposta por estes membros sacrificava o
desenvolvimento linguístico na tenra idade e a redução de cultura na sua
comunidade em que se insere.
Na escola, as crianças surdas eram acompanhadas
por terapeutas da fala e por professores especializados na área de ensino
especial, no qual, desenvolviam treinos auditivos com o principal objetivo de
desenvolver a capacidade da oralidade. No ensino primário, dava-se importância
à leitura de textos orais do que à compreensão do mesmo texto, esta situação
leva a que a criança Surda tenha uma boa capacidade de oralidade na pronúncia
dos sons, das letras e das palavras, mas em contrapartida desenvolve uma
incapacidade ao nível da compreensão e significado dos textos a serem
desenvolvidos pelas mesmas crianças. Ao longo da leitura, verifica-se que os
jovens surdos-parciais apesarem de terem uma boa oralidade que lhes permite
falar, compreender e serem compreendidos pelos ouvintes em diferentes situações,
nota-se uma falta de lógica e de coerência de raciocínio ao nível dos textos e da
escrita portuguesa, que leva a uma fraca cultura e um baixo nível de
escolaridade.
Numa segunda parte do capítulo, este começa por definir: A
criança surda- quem é? Pois quando nos debruçamos sobre esta pergunta a maioria
das pessoas responde de forma diferentes, tais como: “é uma criança que não
ouve”, “uma criança com maior ou menor grau de perda de audição”, “deficiente
auditiva”, “que não fala”, entre outras respostas possíveis que mostram uma
maior ou menor conhecimento relativamente á questão imposta no momento. Estas respostas
são apresentadas de forma negativa, em que comparamo-la com outras crianças ouvintes
referindo o que falta á criança que não ouve.
Surge o termo Educar que se trata
de ajudar as crianças a desenvolverem o seu potencial ao nível das suas
capacidades pedagógicas. A criança surda, mais do que uma criança que não ouve,
é uma criança visual. A receção da informação e comunicação faz-se através do
campo visual, a utilização das mãos, os braços e a expressão facial e corporal,
a criança surda adquirir a sua língua materna sem esforço e de forma espontânea
e natural. Esta aquisição lhe permitirá estruturar o pensamento e desenvolver a
sua identidade em contato com crianças ou adultos surdos que falam a sua
língua, possibilitando a uma imagem positiva enquanto pessoa surda, ajudando-a
no seu papel futuro dentro da nossa sociedade.
Por último, faz-se uma abordagem
ao tema “ A família e a educação”, que no geral fala do papel crucial na
educação da criança surda e no desenvolvimento da sua identidade e autoestima.
Na continuidade da leitura sobre este tema, também é abordado que os pais devem
estar eventualmente preparados no futuro para receber os seus filhos, mesmo que
estes nasçam com problemas auditivos e aceita-los como eles são. Pois estes não
aceitam que o seu filho seja surdo ou tenha problemas auditivos o que leva a
recorrerem a tratamentos médicos para a resolução dos seus problemas.
Normalmente
estas situações são mais verificadas em pais ouvintes que tem filhos surdos. Porém,
o acesso á língua gestual não existe para estes pais, por falta de tempo ou
questões económicas para fazerem um curso intensivo de aprendizagem desta
língua ou pela falta de preocupação e desinteresse na aceitação que o seu filho
tenha problemas auditivos graves e ignorando como seu filho dentro do seio
familiar. Por outro lado, os pais surdos, aceitam com naturalidade um filho seja
ele surdo ou ouvinte, acabando por adquirirem duas línguas (bilinguismo) se um
dos progenitores for ouvinte, se ambos os progenitores forem surdos só tem uma
língua em comum (LGP), tendo uma infância e uma educação feliz no seio familiar
tornando-se mais tarde um ser humano igual a um ouvinte dentro da
sociedade.
A Escola - uma mudança de pespectiva
Relativamente ao artigo 74, refere que “proteger e valorizar
a Língua Gestual Portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de
acesso à educação e igualdade de opurtunidade”. Este reconhecimento valorizou a
importância da LGP na educação dos Surdos.
A nível
internacional, em congressos e temáticas, já não se põem em causa a
importância da língua gestual na Educação. Os
alunos Surdos que frequentaram o pré-escolar numa perspectiva binlingue
obtiveram resultados positivos. No estrangeiro, o bilinguismo já se afirma há longos anos, aqui em Portugal
ainda se está no inicio. Tenta-se incentivar e sensibilizar professores sobre a importância da LGP na
educação dos Surdos e de como a Língua Gestual deve ser adquirida desde muito
cedo. A língua Gestual, não é uma opção e não é um recurso como um auxilio para
a criança, é , acima de tudo, um direito. A criança surda tem o direito de
aprender a LGP, tanto a criança ouvinte tem direito a aprender a língua
portuguesa.
É igualmente importante, que a criança Surda comece a
aprender a segunda língua. Quanto maior é o domínio da primeira língua, mais facilidade
terá em aprender a segunda língua.
Dominar a estrutura e o léxico da LGP, dá uma vantagem na aprendizagem segunda
língua.
O meio menos restritivo
À priori todas as pessoas deviam estar incluidas na
sociedade, mas não depende só de nós, depende também dessa sociedade e do modo
como responde às necessidades e às difeferenças de cada um. Por exemplo, a
existência da legendagem e/ou intérpretes de Língua Gestual Portuguesa; do
deficiente motor ou do idoso; uma politica de igualdade.
A escola tem o dever de educar cada criança respondendo às
suas caracteristicas, estilos de aprendizagem, capacidades, com o
objectivo que a criança desenvolva todo o seu potencial e se torne um cidadão
participativo na sociedade.
Até 1998, existiam os NACDAs (Núcleos de Apoio à Criança
Deficiente Auditiva). Possuíam salas de atendimento para apoiar escolas que
tinham um ou dois meninos surdos integrados em salas de ouvintes. Cada
professor especializado ia dar o respectivo apoio. Muitas vezes os alunos
recebiam apoio duas ou três vezes por semana, e isso não era suficiente.
A criança era a única
surda , não tinha grande acesso ao que se passava na aula. Todos os debates e
conversas passavam ao lado. A criança quando mais velha, copiava do quadro ou
do cadernos dos colegas, matéria que não percebia. Só com a ajuda do professor
na sala NACDA, é que compreendia a matéria. As crianças iam passando de ano, com notas que não
correspondiam à sua realidade. Os alunos
ficavam expectantes quando ao seu futuro. Os mais optimistas diziam “não é
preciso estudar, porque os surdos passam sempre”.
Estes alunos, cujo percurso escolar foi feito no sistema de
integração, atingiam o fim da escolaridade muita vezes sem a primeira língua
assegurada. E também com poucos conhecimentos da língua
Portuguesa. Estes alunos seguiam cursos profissionais. Numa falsa integração, está a limitar o acesso à informação
e também a impedir o desenvolvimento cognitivo da criança surda.
O trabalho do intérprete faz mais sentido em níveis mais
elevados do que no ensino primário, uma vez que os alunos não ouvem o
português, de na serve a tradução. Nos níveis mais avançados os alunos já dominam
a língua gestual.
No ensino pré-escolar até ao 9º ano, é mais adequado haver
um formador de LGP , como modelo do uso correcto da língua. O formador
desenvolve a primeira língua das crianças, colabora com os professores usando
expressões e estruturas frásicas linguisticamente apropriadas à idade das
crianças.
Umas das justificações relativamente na integração é a
socialização. As crianças Surdas devem socializar com as crianças ouvintes,
para aprenderem a viver em sociedade. Ao aceitar isso, está-se afirmar que a sua
maneira de ser, estar, os seus valores,a
história e cultura surda, não são válidos. Então os valores válidos é o
da comunidade ouvinte, maioritariamente.
A sociedade não é homogénea. É composta tanto por pessoas
ouvintes como por pessoas surdas, e suas respectivas culturas. É esse conjunto
que enriquece a sociedade.
As crianças e jovem surdos, como não sabem falar bem, recorrem
a expressões faciais e corporais. Enquanto, que os jovens ouvintes
relacionam-se naturalmente. Logo, as crianças surdas ficam excluídas, pelas
dificuldades em perceberem as conversas. As crianças surdas começam a sentir-se
inferiorizados. Nas aulas os ouvintes têm boas notas e respondem às perguntas,
então acham que para ser bom aluno é preciso ser ouvinte. Este tipo de
pensamento contribui para uma baixa-estima . Ao estarem
integradas, estamos a dar a imagem de que as crianças surdas precisarão sempre
de ajuda, que escrevem mal, que não fala, e quando crescerem e tiverem filhos,
certamente vão-se assustar, pois vão pensar que eles terão o mesmo percurso que
os pais.
As escolas e turmas de crianças Surdas e em que todos sabem
a língua Gestual é que oferecem a melhor
oportunidade para crescerem cognitiva e socioemocionalmente.
Depois do reconhecimento da Língua Gestual Portugal na
constituição, surge o Depacho nº7520/98, que cria as Unidades de Apoio à
Educação de Alunos Surdos, preconizando a educação bilingue. Pretende-se toda
a educação, não superior, aos alunos Surdos. Começa no pré-escolar, e depois
segue para as escolas de referência, nos 1º, 2º e 3º Ciclos e ensino secundário.
Nos primeiros anos há só uma escola, em que os alunos se agrupam em turmas. No
ensino secundário, por vezes a Unidade tem várias escolas secundárias, para que
os alunos possam escolher vários cursos.
Mas era mais útil se a educação
dos Surdos abrangesse tanto as escolas
especiais, como o ensino público
destes alunos.
As unidades de Alunos Surdos, deviam ser menos, abrangendo
as várias regiões, com o objectivo de haver uma optimização dos recursos
humanos e materiais. São necessários formadores surdos de LGP, intérpretes,
professores Surdos e ouvintes qualificados, com domínio adequado de LGP. A
unidade deve integrar o jardim-de-infância e prever transportes para as
crianças.
LGP, literacia e acesso ao currículo
A Língua Gestual é
usada para a comunicação, para a estruturação do pensamento. A língua
Portuguesa é usada com métodos, focando-se no domínio da leitura e da escrita.
A criança Surda deve terminar a escolaridade competente nas duas línguas.
Através da LGP e da LP, juntamente com
educadores e professores competentes no ensino das duas línguas, será possível
para a criança ter acesso à cultura.
É importante ter acesso aos histórias desde a infância. Os pais, os
educadores e os professores devem possibilitar livros de ficção, informativos
ou de outro tipo. O processo de leitura para a criança Surda é mais lento, pois
a língua portuguesa é a sua segunda língua. O que é fundamental é dar boa literatura e deve ser feita em todo percurso escolar.
É necessário que a criança já tenha um domínio da LGP que
lhe permita compreender e participar nos debates na sala de aula. Alguns
conceitos como o “narrador”, “personagem”, “localização temporal e especial”,
entre outras, são capacidades que devem ser desenvolvidas na sua primeira
língua, através de análises em língua Gestual. Assim será mais fácil a análise
de texto na segunda língua.
Têm de haver uma trabalho constante, estruturado
progressivamente, que permita à criança Surda aprender o Português como segunda
língua. É fundamental que a criança se aperceba que está perante duas línguas,
com diferentes formas de exprimir o mesmo conteúdo e com estruturas gramaticais
diferentes. Usar o Português Gestual, a criança não vai compreender.
Para cada um desses sentidos, há muitas vezes um Gesto diferente. Quando a
criança desconhece a palavra usa a
dactilologia. Ou quando pergunta em LGP, pedindo às vezes um resumo Gestual do
texto, percebe-se quais as suas dificuldades.
Se a criança progredir na Língua Portuguesa, esta deverá ser
gradualmente mais usada no ensino e na avaliação de conteúdos curriculares.
Mas, se a criança não dominar a sua primeira língua, os seus conhecimentos
nas outras disciplinas deverão ser avaliados em LGP.
O aluno Surdo deve ser responsabilizado na sua aprendizagem,
com métodos activos: debates nas aulas, fazendo-se pesquisa de informação e
apresentação à turma, elaboração de projectos a turmas de Surdos e de ouvintes.
É exigido aos professores
um bom domínio da LGP. Deve-se considerar o papel importante dos educadores e
professores Surdos qualificados podem ter junto dos alunos Surdos, apostar na
sua formação e colocá-los nas escolas e Unidades de Alunos Surdos.
É imprescindivel um investimento forte na criação de materiais
didácticos em LGP de apoio à educação, na formação de professores e na criação
de espaços onde os profissionais Surdos e Ouvintes, famílias possam trocar
ideias e experiências, para que a Criança tenha uma igualdade de oportunidades.
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