domingo, 22 de abril de 2012

Língua Gestual Portuguesa - uma opção ou um direito


Resumo

“ Gesto e a Palavra I”



Língua Gestual – uma opção ou um direito? 
Texto de Paula Estanqueiro



Este resumo, do texto de Paula Estanqueiro, tem 4 temas,  e que refectem as problemáticas da Educação do Surdo.

O meio menos restritivo na educação de Surdos
Sub-temas:
- A Educação das crianças surdas no ensino escolar;

- A criança surda – quem é?

- A Família e a Educação

 

Numa primeira abordagem, até há pouco tempo os docentes especializados no ensino especial assumiam a oralidade, um fator indispensável para a educação de uma criança portadora de surdez, esta situação do desenvolvimento da oralidade imposta por estes membros sacrificava o desenvolvimento linguístico na tenra idade e a redução de cultura na sua comunidade em que se insere.




Na escola, as crianças surdas eram acompanhadas por terapeutas da fala e por professores especializados na área de ensino especial, no qual, desenvolviam treinos auditivos com o principal objetivo de desenvolver a capacidade da oralidade. No ensino primário, dava-se importância à  leitura de textos orais do que à compreensão do mesmo texto, esta situação leva a que a criança Surda tenha uma boa capacidade de oralidade na pronúncia dos sons, das letras e das palavras, mas em contrapartida desenvolve uma incapacidade ao nível da compreensão e significado dos textos a serem desenvolvidos pelas mesmas crianças. Ao longo da leitura, verifica-se que os jovens surdos-parciais apesarem de terem uma boa oralidade que lhes permite falar, compreender e serem compreendidos pelos ouvintes em diferentes situações, nota-se uma falta de lógica e de coerência de raciocínio ao nível dos textos e da escrita portuguesa, que leva a uma fraca cultura e um baixo nível de escolaridade.
Numa segunda parte do capítulo, este começa por definir: A criança surda- quem é? Pois quando nos debruçamos sobre esta pergunta a maioria das pessoas responde de forma diferentes, tais como: “é uma criança que não ouve”, “uma criança com maior ou menor grau de perda de audição”, “deficiente auditiva”, “que não fala”, entre outras respostas possíveis que mostram uma maior ou menor conhecimento relativamente á questão imposta no momento. Estas respostas são apresentadas de forma negativa, em que comparamo-la com outras crianças ouvintes referindo o que falta á criança que não ouve.
Surge o termo Educar que se trata de ajudar as crianças a desenvolverem o seu potencial ao nível das suas capacidades pedagógicas. A criança surda, mais do que uma criança que não ouve, é uma criança visual. A receção da informação e comunicação faz-se através do campo visual, a utilização das mãos, os braços e a expressão facial e corporal, a criança surda adquirir a sua língua materna sem esforço e de forma espontânea e natural. Esta aquisição lhe permitirá estruturar o pensamento e desenvolver a sua identidade em contato com crianças ou adultos surdos que falam a sua língua, possibilitando a uma imagem positiva enquanto pessoa surda, ajudando-a no seu papel futuro dentro da nossa sociedade.
Por último, faz-se uma abordagem ao tema “ A família e a educação”, que no geral fala do papel crucial na educação da criança surda e no desenvolvimento da sua identidade e autoestima. Na continuidade da leitura sobre este tema, também é abordado que os pais devem estar eventualmente preparados no futuro para receber os seus filhos, mesmo que estes nasçam com problemas auditivos e aceita-los como eles são. Pois estes não aceitam que o seu filho seja surdo ou tenha problemas auditivos o que leva a recorrerem a tratamentos médicos para a resolução dos seus problemas.
Normalmente estas situações são mais verificadas em pais ouvintes que tem filhos surdos. Porém, o acesso á língua gestual não existe para estes pais, por falta de tempo ou questões económicas para fazerem um curso intensivo de aprendizagem desta língua ou pela falta de preocupação e desinteresse na aceitação que o seu filho tenha problemas auditivos graves e ignorando como seu filho dentro do seio familiar. Por outro lado, os pais surdos, aceitam com naturalidade um filho seja ele surdo ou ouvinte, acabando por adquirirem duas línguas (bilinguismo) se um dos progenitores for ouvinte, se ambos os progenitores forem surdos só tem uma língua em comum (LGP), tendo uma infância e uma educação feliz no seio familiar tornando-se mais tarde um ser humano igual a um ouvinte dentro da sociedade.   

A Escola - uma mudança de pespectiva

Relativamente ao artigo 74, refere que “proteger e valorizar a Língua Gestual Portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e igualdade de opurtunidade”. Este reconhecimento valorizou a importância da LGP na educação dos Surdos.
A nível  internacional, em congressos e temáticas, já não se põem em causa a importância da língua gestual na Educação. Os alunos Surdos que frequentaram o pré-escolar numa perspectiva binlingue obtiveram resultados positivos. No estrangeiro, o bilinguismo já  se afirma há longos anos, aqui em Portugal ainda se está no inicio. Tenta-se incentivar e sensibilizar  professores sobre a importância da LGP na educação dos Surdos e de como a Língua Gestual deve ser adquirida desde muito cedo. A língua Gestual, não é uma opção e não é um recurso como um auxilio para a criança, é , acima de tudo, um direito. A criança surda tem o direito de aprender a LGP, tanto a criança ouvinte tem direito a aprender a língua portuguesa.
É igualmente importante, que a criança Surda comece a aprender a segunda língua. Quanto maior é o domínio da primeira língua, mais facilidade terá  em aprender a segunda língua. Dominar a estrutura e o léxico da LGP, dá uma vantagem na aprendizagem segunda língua.
O meio menos restritivo

À priori todas as pessoas deviam estar incluidas na sociedade, mas não depende só de nós, depende também dessa sociedade e do modo como responde às necessidades e às difeferenças de cada um. Por exemplo, a existência da legendagem e/ou intérpretes de Língua Gestual Portuguesa; do deficiente motor ou do idoso; uma politica de igualdade.
A escola tem o dever de educar cada criança respondendo às suas caracteristicas, estilos de aprendizagem,  capacidades, com o objectivo que a criança desenvolva todo o seu potencial e se torne um cidadão participativo na sociedade.
Até 1998, existiam os NACDAs (Núcleos de Apoio à Criança Deficiente Auditiva). Possuíam salas de atendimento para apoiar escolas que tinham um ou dois meninos surdos integrados em salas de ouvintes. Cada professor especializado ia dar o respectivo apoio. Muitas vezes os alunos recebiam apoio duas ou três vezes por semana, e isso não era suficiente.
A criança  era a única surda , não tinha grande acesso ao que se passava na aula. Todos os debates e conversas passavam ao lado. A criança quando mais velha, copiava do quadro ou do cadernos dos colegas, matéria que não percebia. Só com a ajuda do professor na sala NACDA, é que compreendia a matéria. As crianças iam passando de ano, com notas que não correspondiam à sua realidade.  Os alunos ficavam expectantes quando ao seu futuro. Os mais optimistas diziam “não é preciso estudar, porque os surdos passam sempre”.
Estes alunos, cujo percurso escolar foi feito no sistema de integração, atingiam o fim da escolaridade muita vezes sem a primeira língua assegurada. E também com poucos conhecimentos da língua Portuguesa. Estes alunos seguiam cursos profissionais. Numa falsa integração, está a limitar o acesso à informação e também a impedir o desenvolvimento cognitivo da criança surda.
O trabalho do intérprete faz mais sentido em níveis mais elevados do que no ensino primário, uma vez que os alunos não ouvem o português, de na serve a tradução. Nos níveis mais avançados os alunos já dominam a língua gestual.
No ensino pré-escolar até ao 9º ano, é mais adequado haver um formador de LGP , como modelo do uso correcto da língua. O formador desenvolve a primeira língua das crianças, colabora com os professores usando expressões e estruturas frásicas linguisticamente apropriadas à idade das crianças.
Umas das justificações relativamente na integração é a socialização. As crianças Surdas devem socializar com as crianças ouvintes, para aprenderem a viver em sociedade. Ao aceitar isso, está-se afirmar que a sua maneira de ser, estar, os seus valores,a  história e cultura surda, não são válidos. Então os valores válidos é o da comunidade ouvinte, maioritariamente.
A sociedade não é homogénea. É composta tanto por pessoas ouvintes como por pessoas surdas, e suas respectivas culturas. É esse conjunto que enriquece a sociedade.
As crianças e jovem surdos, como não sabem falar bem, recorrem a expressões faciais e corporais. Enquanto, que os jovens ouvintes relacionam-se naturalmente. Logo, as crianças surdas ficam excluídas, pelas dificuldades em perceberem as conversas. As crianças surdas começam a sentir-se inferiorizados. Nas aulas os ouvintes têm boas notas e respondem às perguntas, então acham que para ser bom aluno é preciso ser ouvinte. Este tipo de pensamento contribui para uma baixa-estima . Ao estarem integradas, estamos a dar a imagem de que as crianças surdas precisarão sempre de ajuda, que escrevem mal, que não fala, e quando crescerem e tiverem filhos, certamente vão-se assustar, pois vão pensar que eles terão o mesmo percurso que os pais.
As escolas e turmas de crianças Surdas e em que todos sabem a língua Gestual  é que oferecem a melhor oportunidade para crescerem cognitiva e socioemocionalmente.
Depois do reconhecimento da Língua Gestual Portugal na constituição, surge o Depacho nº7520/98, que cria as Unidades de Apoio à Educação de Alunos Surdos, preconizando a educação bilingue. Pretende-se toda a educação, não superior, aos alunos Surdos. Começa no pré-escolar, e depois segue para as escolas de referência, nos 1º, 2º e 3º Ciclos e ensino secundário. Nos primeiros anos há só uma escola, em que os alunos se agrupam em turmas. No ensino secundário, por vezes a Unidade tem várias escolas secundárias, para que os alunos possam escolher vários cursos.
Mas era mais útil se a educação dos Surdos  abrangesse tanto as escolas especiais, como o ensino público destes alunos.
As unidades de Alunos Surdos, deviam ser menos, abrangendo as várias regiões, com o objectivo de haver uma optimização dos recursos humanos e materiais. São necessários formadores surdos de LGP, intérpretes, professores Surdos e ouvintes qualificados, com domínio adequado de LGP. A unidade deve integrar o jardim-de-infância e prever transportes para as crianças.
LGP, literacia e acesso ao currículo

A Língua Gestual  é usada para a comunicação, para a estruturação do pensamento. A língua Portuguesa é usada com métodos, focando-se no domínio da leitura e da escrita. A criança Surda deve terminar a escolaridade competente nas duas línguas. Através da LGP  e da LP, juntamente com educadores e professores competentes no ensino das duas línguas, será possível para a criança ter acesso à cultura.
É importante ter acesso aos histórias desde a infância. Os pais, os educadores e os professores devem possibilitar livros de ficção, informativos ou de outro tipo. O processo de leitura para a criança Surda é mais lento, pois a língua portuguesa é a sua segunda língua. O que é fundamental  é dar boa literatura e deve ser feita em todo percurso escolar.
É necessário que a criança já tenha um domínio da LGP que lhe permita compreender e participar nos debates na sala de aula. Alguns conceitos como o “narrador”, “personagem”, “localização temporal e especial”, entre outras, são capacidades que devem ser desenvolvidas na sua primeira língua, através de análises em língua Gestual. Assim será mais fácil a análise de texto na segunda língua.
Têm de haver uma trabalho constante, estruturado progressivamente, que permita à criança Surda aprender o Português como segunda língua. É fundamental que a criança se aperceba que está perante duas línguas, com diferentes formas de exprimir o mesmo conteúdo e com estruturas gramaticais diferentes. Usar o Português Gestual, a criança não vai compreender. Para cada um desses sentidos, há muitas vezes um Gesto diferente. Quando a criança desconhece a palavra  usa a dactilologia. Ou quando pergunta em LGP, pedindo às vezes um resumo Gestual do texto, percebe-se quais as suas dificuldades.
Se a criança progredir na Língua Portuguesa, esta deverá ser gradualmente mais usada no ensino e na avaliação de conteúdos curriculares. Mas, se a criança não dominar a sua primeira língua, os seus conhecimentos nas outras disciplinas deverão ser avaliados em LGP.
O aluno Surdo deve ser responsabilizado na sua aprendizagem, com métodos activos: debates nas aulas, fazendo-se pesquisa de informação e apresentação à turma, elaboração de projectos a turmas de Surdos e de ouvintes.
É exigido aos professores um bom domínio da LGP. Deve-se considerar o papel importante dos educadores e professores Surdos qualificados podem ter junto dos alunos Surdos, apostar na sua formação e colocá-los nas escolas e Unidades de Alunos Surdos.
É imprescindivel um investimento forte na criação de materiais didácticos em LGP de apoio à educação, na formação de professores e na criação de espaços onde os profissionais Surdos e Ouvintes, famílias possam trocar ideias e experiências, para que a Criança tenha uma igualdade de oportunidades.

 

Este resumo foi elaborado por Inês Cavaco e Vânia Marcelino do Curso LGPN, da unidade curricular Aprendizagem e Desenvolvimento.







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