Da nossa turma para o mundo
sexta-feira, 3 de maio de 2013
terça-feira, 12 de junho de 2012
Trabalho de Grupo - Construção de Identidade
Após análise do texto "Patinho feio ou cisne seguro de si? Surdez, comunicação e estima de si mesmo" do livro "O gesto e a palavra 1", verificamos que um dos temas abordados era a construção da identidade.
Neste texto a autora faz uma comparação entre a pessoa surda e o patinho feio.
Para abordarmos este tema da construção da identidade, decidimos realizar um video onde recolhemos testemunhos de duas pessoas surdas com diferentes construções de identidade, em que uma foi mais discriminada ao longo da vida por ser surda e a outra nem tanto, sentindo-se confortável na sociedade em geral.
No final do visionamento do video o leitor pode concluir que estas duas pessoas têm a sua identidade totalmente construída, podendo fazer a comparação com a história do patinho feio que ao inicio é rejeitado por ser diferente mas que ao longo da vida vai percebendo que nem todos somos iguais!
Ana Meier
Silvania Mendes
Vânia Silva
(Devido a problemas técnicos, as legendas da tradução não aparecem e o 2º video pertencente ao trabalho dava erro no seu carregamento. Entraremos em contacto com a professora Luisa Carvalho para que possamos entregar os vídeos no seu formato correcto, os nossos cumprimentos).
domingo, 20 de maio de 2012
Trabalho Grupo
Para a realização do nosso trabalho debruçamo-nos sobre uma
Banda Desenhada intitulada: “Cinema em Casa”, do livro Léo – O Puto Surdo, da
autoria de Yves Lapalu, desenhador talentoso surdo, de nacionalidade francesa.
O livro fala-nos de vivências do dia-a-dia de uma criança
surda face à sociedade maioritariamente ouvinte. Algumas das situações
relatadas nos diversos episódios presentes no livro revelam a inadaptação e a
ignorância por parte da sociedade predominante.
Após a apresentação da banda desenhada iremos fazer uma breve
reflexão e análise da atual situação, a realidade da televisão junto da
comunidade surda, já que uma das maiores dificuldades dos surdos é tentar
compreender, sem ouvir, o pequeno ecrã, para este efeito iremos refletir com
base no livro O Gesto e a Palavra 1. Ler a nossa reflexão
Trabalho realizado por:
Sofia Rocha
Sandra Bragança
sexta-feira, 27 de abril de 2012
A primeira parte deste video intitulado "Como é construir uma família no silêncio" é uma adaptação do texto " A aventura de um pai" presente no livro o "O gesto e a palavra". Aqui, pela voz da filha mais velha, é contada a história de vida do seu pai Fausto Sampaio como se de uma homenagem se tratasse.
Na segunda parte é retratada uma história verídica de uma família ouvinte, que se vê a braços com o nascimento de uma filha surda.
Finalizamos com um poema de Willerd e Madsen que fala das dificuldades de uma pessoa surda.
Trabalho realizado por alunas do curso de TILGP 1º ano:
Filipa Silva
Lina Coelho
Marisa Canôa
Sílvia Raminhos
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Patinho feio ou cisne seguro de si? Surdez, comunicação e estima de fi mesmo
Comentário do texto:
Patinho feio ou cisne seguro de si?
Surdez, comunicação e estima de si mesmo
Rosa Garcia
Quando olhamos para alguém que não conhecemos, mas que utiliza o gesto como forma de comunicação, não sabemos nada dessa pessoa. Ignoramos se é surda (ou ouvinte), se sempre o foi, se alguma vez ouviu, se sempre “falou com as mãos”, se sabe oralizar, como comunica com os outros que desconhecem a língua gestual, como olha para o mundo que a rodeia e/ou como o interpreta, entre outros aspectos.
Nascer surdo profundo e crescer numa família de ouvintes, ou crescer numa família onde a principal forma de comunicação é a língua gestual, poderá vir a revelar-se determinante na vida de um surdo. Assim como fará toda a diferença para um surdo adulto, ter nascido surdo profundo ou ter perdido a audição ao longo da vida e após a aquisição de uma linguagem.
São estes “pequenos” aspectos, muitas das vezes ignorados, que podem condicionar toda uma vida, pois a visão que um surdo tem de si mesmo e a avaliação que faz das suas capacidades, depende em grande medida da capacidade que tem para comunicar e se relacionar com os outros.
Um surdo não é alguém a quem falta algo para se desenvolver normalmente, não é alguém com problemas psicológicos resultantes da surdez, não é alguém impedido de comunicar. É apenas alguém que necessita, desde pequeno, quando ainda não tem capacidade de decidir por si próprio, que lhe sejam facultados os instrumentos que lhe permitam adquirir a forma de comunicação mais adequada à sua condição. Com essa ferramenta, o surdo é igual aos ouvintes, diferindo apenas no canal de comunicação, mas tendo a escrita como elemento de comunicação comum.
É através da comunicação que, quer os surdos quer os ouvintes, se avaliam os si mesmos e avaliam os outros, pelo que é determinante que relações de amizade, familiares ou outras se estabeleçam.
Qualquer criança quando nasce tem um elo de ligação muito próximo com a mãe e ambas comunicam mesmo sem que tenha existido uma aquisição prévia da fala. Assim, também a criança surda, comunica desde que nasce com a sua mãe. Fá-lo de forma visual ou através do tacto, exponenciando estes dois sentidos, em substituição da audição, enquanto que uma criança ouvinte reconhecerá a mãe também pelo som.
Para uma melhor compreensão daquilo que poderá ser a vida de um surdo com ou sem acesso à língua gestual, a autora faz uma analogia com a história do Patinho Feio.
A entrada na escola é para o surdo, o momento em que o Patinho Feio abandona a sua mãe e procura uma nova vida longe da sua asa e encontra “outros” iguais a si. Ao encontrar-se com outras crianças surdas e ao aprender língua gestual, o surdo pode sair do silêncio em que se manteve até então, ganhar esperança e acima de tudo, ganhar confiança em si e começar a relacionar-se com os outros de forma mais aberta, avaliando-se e avaliando-os. Ao comunicar com os outros, percebe que é capaz, que há quem o compreenda (para além da mãe) e que tem a capacidade de mudar os outros. Isso fá-lo-á gostar mais de si e acreditar que “pode tudo”.
Ao contrário de uma criança ouvinte, para o surdo profundo o som não funciona como método de comunicação, de avaliação, de expressão e avaliação de si mesmo. Numa fase inicial, o gesto é utilizado exclusivamente entre filho e mãe, contudo é substituído de forma natural pela aprendizagem de uma língua gestual, que será utilizada como meio de comunicação, caso o meio social lhe permita.
Não desrespeitando as competências do surdo, no processo de aquisição da língua falada deve valorizar a escrita, pois tal como a Língua Gestual, são ambas visual – motora. Contudo se um surdo profundo de nascença só tiver acesso à língua falada, este entrará em processo de exclusão. Tal como os ouvintes tem como referência a oralidade, para o surdo a sua referência é o gesto, o visível. A escrita, como vertente visual da língua falada, pode também ter um sentido para o surdo, e é a partir da escrita que os surdos e ouvintes podem considerar-se membros da mesma comunidade linguística. A escrita integra surdos e ouvintes num mesmo grupo, onde lhes é proporcionado a partilha de “sentires e sentidos” próprios de cada membro das distintas comunidades.
Assim sendo, a escrita é uma forma de inclusão do surdo profundo de nascença na comunidade ouvinte; onde a imagem visual é cada vez mais privilegiada. Então porque razão não se exige que um surdo profundo fale? O som não é algo natural num surdo profundo, é um sentido que este desconhece, assim seria uma injustiça para o mesmo defender que deveria utilizar o som como meio privilegiado de comunicação. Se não pararmos para pensar um pouco nesta questão, corremos o risco de entrarmos num caminho de exclusão violenta ao obrigarmos um surdo profundo de nascença a usar uma língua oral como meio de comunicação.
À nossa volta existe uma riqueza visual-motor que aos olhos de um ouvinte “passa ao lado”, contudo para um surdo essa riqueza é evidente. Um ouvinte ao deparar-se com uma língua visual-motor, cujo significado lhe é desconhecido, é evidente o desconforto de quem fala e ouve. Os pais ouvintes com filhos surdos sofrem com o seu desconhecimento sobre a surdez, sofrem com a falta de um instrumento de comunicação entre pais e filhos. Na oralidade cega não existe a partilha de sentido e desta forma o surdo corre o risco de ficar excluído do convívio com os outros e de nunca conseguir organizar um sentido de si mesmo, ou de não poder avaliar como alguém em contacto com os outros. O convívio é algo indispensável ao seu desenvolvimento.
O que precisa um surdo profundo de nascença para o seu desenvolvimento? No momento em questão um surdo ainda não tem idade de escolher, torna-se necessário que alguém escolha o caminho certo para ele. Contudo quem escolhe este caminho tem que fazer a escolha certa onde terá que ser prudente para lhe proporcionar o acesso a uma língua, assim como respeitar a particularidade da situação do surdo tendo em vista a realização plena do sentido e do potencial da vida. Embora seja uma minoria, as crianças surdas filhas de pais surdos que têm acesso à Língua Gestual no seio familiar, possuem um instrumento valioso que lhes permite alcançar o sentido e a expressão de si mesmo. Um surdo profundo de nascença, mesmo com o auxílio de meios artificiais (implantes coclear) nunca iria conseguir configurar o sentido do som que sempre lhe foi desconhecido, não lhe é natural. Quando não existe o acesso à Língua Gestual e à escrita, o surdo fica privado de se estruturar.
Actualmente, pretende-se que a escola seja um meio de inclusão, onde existem técnicos competentes e com características específicas, contudo é visível o sofrimento de um surdo profundo de nascença quando lhe é negado o uso da sua língua natural, a língua gestual. O convívio com os outros, sem o uso da língua gestual, não é suficiente para o seu desenvolvimento, pois é no seio da sua comunidade que se desenvolve a língua e a sua identidade. A equipa técnica existente na escola (psicólogos, terapeutas…) são bem-intencionados contudo esquecem o surdo na sua globalidade, uma vez que o surdo é visto como alguém a reabilitar e não como alguém com potencialidades. Não basta querer tornar o surdo um paciente modelo, pois este não é o meio de realização da pessoa surda. É necessário alertar para a visão parcelar que se tem do surdo, não se pode perder a noção que um surdo é uma pessoa inteira, una, com sentimentos, aspirações, desejos, necessidades e capacidades próprias.
O sujeito procura o sentido de si mesmo nas suas escolhas e apenas nós mesmos o podemos fazer. Sozinho o surdo fica sem condições de realizar trocas e partilhas humanas. Um amigo é aquele que ama o amigo por aquilo que ele é sem lhe exigir a perfeição. Sem a reciprocidade da amizade perde-se o equilíbrio das trocas humanas, o justo reconhecimento de si, do que há de bom em nós. Sem identidade entra-se num caminho de solidão, de deslocação, de fechamento do qual pode ser difícil sair. Para existir um diálogo de partilha são necessárias duas pessoas. Mesmo sem ânimo, o surdo prossegue a interpretação de si mesmo de forma a melhorar a sua vida. São através dos jogos comunicativos e do “faz de conta” que uma criança cresce e se desenvolve. O diálogo é o elemento principal para que este se encontre consigo mesmo.
Surdo ou ouvinte, é através dos outros que nos avaliamos e que nos estimamos a nós mesmos.
BISPO, M. et al (Coord.), O Gesto e a Palavra I – Antologia de textos sobre a surdez, Projecto AFAS, Lisboa: Editorial Caminho, S.A., 2006, pág. 313 – 337
Discentes: Andreia Alves e Sara Fulgêncio
trabalho
Gesto e a Palavra
I
“Os Utilizadores de Língua Gestual e a Comunidade Surda” (Pág.83 a
108)
Markku Jokien
Docente: Luísa Carvalho
Discentes: Colleen Freitas,
Joana Rodrigues e Sofia Ferreira
23 De Abril de 2012
Introdução
Nos últimos anos foram debatidos os conceitos
de Falantes Nativos de Língua Gestual e utilizadores de Língua Gestual nas
comunidades Surdas dos países nórdicos e EU.
Antes deste trabalho sobre os conceitos
referidos anteriormente, foi dado a conhecer às autoridades a importância das
Línguas Gestuais e de como são importantes para a comunicação dos surdos e dos
seus direitos humanos, tendo o Parlamento Europeu solicitado os Estados Membros
para que reconhecessem as Línguas Gestuais como oficiais nos seus países. Até
hoje só a Finlândia e Portugal tem reconhecidas as línguas gestuais nas suas
constituições.
Ao longo deste capítulo serão abordadas
algumas questões importantes como, comunidade surda, falantes nativos de língua
gestual, utilizadores da língua gestual, diferentes perspetivas sobre a
utilização da língua gestual, identidades do falante de língua gestual, surdez
e utilização da língua gestual.
É através da língua que se adquire toda uma
cultura e o ser humano estrutura e interpreta o mundo e a sua relação com o
lugar que ocupa.
Ir-se-á verificar que os falantes nativos de
língua gestual, constituem um grupo muito heterogéneo, com muitos subgrupos,
podendo serem encontrados a nível local e internacional. As suas identificações
são fortalecidas através do desenvolvimento da tecnologia e da informação.
A
identificação da pessoa surda também é considerada como uma identificação
social e pessoal. A comunidade surda é representada por organizações oficiais e
não oficiais. O direito humano da comunidade surda ganha força a cada dia que
passa, através da sua língua.
Um estudo psicossocial a um grupo de surdos
Finlandeses, concluiu que este grupo tem utilizado a língua para se
caracterizar e melhorar o seu estatuto. Para além da língua, utilizam
definições, termos e expressões para manifestar as suas necessidades, bem como
a vontade de se tornarem um grupo idêntico a outros.
“A comunidade surda “
Na Finlândia durante uma parte do séc. XX, a
comunidade surda era encarada como não tendo cultura, em substituição a este termo, entre eles, usavam a
expressão Surdo-Próprio-Mundo ou Mundo-Surdo-Próprio, que traduzida
significa mundo dos surdos, (na ASL
– American Sign Language, têm um conceito semelhante, Mundo-Surdo). O sentido
destes termos usados pelos surdos deste país, trata um todo/uma entidade, não
só constituída pela língua mas também por tudo que envolve esta comunidade,
organizações, tradições próprias, etc. O facto de usarem a expressão acima
mencionada deve-se a este povo querer se distinguir de um outro mundo, o dos
ouvintes; também usavam outro termo em complemento ao acima mencionado, Próprio
Modo HYY, (movimento da
boca), significando “característico para nós” ou “tal como nós”, o uso destes
termos entre eles era para mostrarem que têm hábitos e costumes, deles mesmos,
do grupo.
Durante todo este período, esta comunidade
quis mostrar de como a identidade deles era forte e determinada. Surge então no
séc. XIX, vários clubes criados por estes, em 1946 a primeira escola de surdos,
desde logo diziam “ O clube de surdos é como uma segunda casa”, era aqui que
eles se sentiam únicos e próprios, podendo usar livremente a sua língua, a
Língua Gestual Finlandesa; pois nas escolas a língua gestual era proibida,
assim como os surdos foram proibidos de casar entre si, (1900-1970).
Uma outra expressão usada pelos surdos era a
que designava os ouvintes, Ouvinte-Próprio-Mundo, pois estes tinham igualmente as seus
costumes e que também formavam uma comunidade, forte e unificada. Pouco tempo
depois alguns surdos e investigadores estudaram o conceito de Cultura,
aplicando-o ao termo Mundo Surdo,
assim gerou-se o interesse de estudar esta comunidade, criando-se assim,
organizações sociais para servir esta comunidade e serviços de interpretação
para a comunicação com o outro mundo, nesta época quando usavam a expressão Mundo Surdo referiam-se à Comunidade Surda, mas ainda não usada
por toda esta comunidade de surdos finlandeses. Durante a década de 80 do séc.
XX, este termo chegou ao nosso país através de uma formação chamada de Consciência Surda.
Nos EUA, segundo Baker and Cokely 1980: “ (…)
a Comunidade Surda é constituída por membros surdos e com dificuldades
auditivas que possuem uma língua, experiências e valores comuns e uma forma de
interagirem entre si e com as pessoas ouvintes”.
De início sé se considerava os surdos profundos
e parciais pertencentes à comunidade surda, pois trocavam experiências
idênticas e usavam a língua gestual, uns anos mais tarde, também consideraram
que pessoas que estivessem ligadas a esta comunidade activamente e partilhassem
os mesmos pontos de vista também fariam parte dela.
Então, segundo o esquema apresentado (pág. 89,
fig.1), sendo o maior grupo, 90% a 95% os surdos profundos e parciais que
utilizam a língua gestual e têm pais ouvintes, que a língua gestual é a sua
segunda língua ou que não a utilizam; o grupo minoritário, 5% a 10% é aquele em
que há surdos filhos de pais surdos, sendo considerados o núcleo da comunidade
surda em termos linguísticos, culturais e sociais, sendo os restantes elementos
da comunidade as pessoas que trabalham com estes nativos de língua gestual,
os pais ouvintes que têm filhos surdos, ou aqueles que têm interesse na língua
e na comunidade em causa.
Os clubes existentes na Finlândia fazem parte
das associações que trabalham a nível nacional.
Este estudo feito na Finlândia também faz
referência à Espanha, pois aqui há três níveis: existem os clubes locais, as
associações regionais e uma federação nacional para 1milhão de surdos, fazendo
parte da União Europeia dos Surdos desde 1995, e também são uma das 123
associações filiadas na Federação Mundial de Surdos, estas situações são
desconhecidas na comunidade ouvintes, também a nível desportivo fazem parte de
algumas organizações mundiais, fazendo com que a língua gestual internacional
não ponha barreiras entre os vários surdos de diferentes países e troquem as
várias experiencias.
Existem cerca de 70milhoes de Surdos no Mundo,
comunidade internacional maior que a população de muitos países. Este facto da
troca de vivências entre os surdos de todos os países, faz com que se tornem
mais fortes e mostrem os seus objetivos ao Mundo, que lutem para uma vida
melhor e conquistem as suas metas, reforçando a identidade de cada surdo no
mundo.
É preciso que haja respeito pela escolha de
pertença a um determinado grupo, havendo ouvintes que dominam tão bem a língua
gestual quanto um surdo, havendo por vezes dificuldades em saber se é ouvinte
ou surdo, pois a atividade politica na comunidade surda não implica que sejam
só surdos, se estes forem politicamente ativos são aceites, mesmo não sabendo a
língua gestual.
“Diferentes perspetivas sobre a utilização da língua gestual”
Ao falarmos acerca das designações
ligadas a um certo grupo, temos de ter em conta o ponto de vista ético, temos
de ter atenção às opiniões dos membros do grupo, respeitando as designações que
utilizam entre si, grupos, aquilo que estimam e valorizam.
No entanto, a maioria das pessoas não
tem isto em conta, insistindo no termo ”surdo-mudo”, desconhecendo mesmo o
termo falantes nativos da língua gestual.
Grande parte das pessoas acha que surdo-mudo não é um termo insultuoso ou
negativo, porém este, é antiquado e insultuoso, do ponto de vista dos falantes nativos da língua gestual,
outro termo que acham adequado é “pessoa com deficiência auditiva”,
equiparando, por vezes, ao termo surdo.
Contudo, “o termo surdo é considerado
como mais adequado, mais próximo e afetuoso visto referir-se à comunidade surda
e à sua cultura, do ponto de vista dos falantes
nativos da língua gestual”.
Do ponto de vista legal a Língua Gestual Finlandesa tem estatuto
condicional, garantindo-se desde 1995 os direitos dos falantes nativos da
língua gestual, existindo em Portugal, África do Sul e Uganda um estatuto
semelhante e de acordo com a nossa constituição, trata-se da Língua Gestual e
não da Língua dos Surdos. Assim sendo, toda a discussão em volta do termo Utilizador da Língua Gestual e Falantes Nativo da Língua Gestual surgiu
do estatuto constitucional e do significado da expressão. A utilização do termo falante nativo da língua gestual tem-se
intensificado e tem sido utilizado pelas pessoas em diferentes contextos.
Quanto ao ponto de vista sociocultural é importante referir que a língua
gestual não é apenas a língua mãe das crianças surdas, mas também de crianças
ouvintes, pois a aquisição, domínio e a identidade desta língua não dependem do
nível de audição e capacidade auditiva, mas sim do grau de língua gestual em
que a criança está rodeada. A cultura surda Finlandesa, é uma longa tradição
inseparável da língua gestual Finlandesa, através desta temos a grande
oportunidade de obter e aprender o saber acumulado que foi transmitido ao longo
de muitas gerações, realizando a pessoa surda, com a língua gestual temos
acesso à história sobre o modo como viviam os surdos no século XX, vivenciaram
as guerras e falavam com os ouvintes, o modo como inventaram ”campainhas de
porta” e despertadores visuais; como frequentam escolas distantes das suas
casas e viviam longos períodos em colégios internos; como viviam com a
sociedade, opressão e vergonha da sua língua; a forma como a Língua Gestual
Finlandesa se libertou e rivalizou; a força com que lutam pela sua língua. É
através destas histórias que constroem a identidade enquanto falantes nativos da língua gestual.
Na Finlândia, para além de surdos,
são muitas as pessoas que utilizam a Língua Gestual Finlandesa, averiguou-se
cerca de 14 000 utilizadores de língua gestual, na prática os falantes nativos da língua gestual também
são bilingues. Atualmente, na educação das crianças finlandesas, o multiculturalismo
e o multilinguismo tornaram-se competências essenciais devido à rápida
transformação do mundo.
No ponto de vista linguístico, todas as línguas gestuais são naturais
a par das outras línguas, porém as línguas gestuais continuam a ser esquecidas
no inventário das línguas. Esta língua é o “cimento” que alicerça os falantes nativos desta língua na
comunidade, sendo que também desempenham um papel importante no crescimento e
desenvolvimento individual, na construção de uma equilibrada personalidade.
A língua suporta em si a cultura,
revelando-se através do conteúdo linguístico, enriquecida de símbolos
culturais, as suas raízes apoiam-se na cultura que a alimenta. Os componentes
da identidade social são a língua e a cultura. O individuo absorve em si a
língua e esta passa a ser a sua pele, através da qual respira. Ao destruirmos a
língua, destruímos a estrutura cultural e com ela a do individuo que nela se
sustenta.
Concluindo, as provas e factos acerca
da língua gestual, enquanto língua natural, por si só, não é o suficiente, pois
as línguas gestuais continuam a sofrer de opressão no mundo inteiro. Os falantes nativos da língua gestual presenciam
quotidianamente ao genocídio linguístico. Apenas uma pequena percentagem destes,
em todo o mundo, recebe a sua educação em língua gestual.
“Identidades do falante de língua gestual”
A língua desempenha um
papel muito importante na definição da identidade cultural de cada pessoa,
representa também a sua identidade social. Surdo
e falante nativo da língua gestual são designações que incluem a língua
gestual e a sua utilização como modo integrante do modo de vida do individuo.
Segundo a comunidade surda Surdo é a pessoa com quem eles se identificam e
vice-versa. Os sinais de identidade consistem na utilização da língua gestual,
no conhecimento da comunidade surda e na utilização do espaço visuo-motor como
meio de processamento de informação e interação entre as pessoas. O termo mais
recente, falante nativo da língua gestual, coloca a tónica na língua e na sua
utilização. Esta expressão remete-nos com maior definição para a identidade
linguística.
O desenvolvimento/exercício
da língua contribui para a caracterização do individuo: “língua gestual-surdo
profundo, língua falada-surdo parcial”. Porém, sempre houve a existência de
surdos profundos que não utilizavam a língua gestual e surdos parciais que o
faziam.
O falantes nativos da língua gestual vivem sempre entre duas
culturas, quanto mais profunda for a aquisição de ambas as línguas e culturas,
mais preparadas estão a adaptar-se a elas permitindo-lhes utilizar
eficientemente diversos tipos de ferramentas, códigos de conduta, símbolos
culturais e seus significados. O falante
nativo da língua gestual tem o mesmo tipo de experiências que os membros de
outras minorias linguísticas e culturais. Muitos destes falantes “continuam a lutar contra todo o tipo de injustiças e a
favor dos direitos humanos, assumindo-se como “combatentes pela liberdade””.
Ponto de vista étnico
A
endogamia é muito comum entre os surdos. A surdez em si pode ser considerada
como uma marca biológica (como a cor da pele nos negros), mas a utilização e a
identificação com a língua gestual pode ser mais forte que a própria surdez. Na
Finlândia o reconhecimento da língua gestual ajudou a comunidade surda a interagir
com os ouvintes.
Os
pais, bem como as pessoas mais chegadas das crianças, desempenham um papel
fundamental no desenvolvimento da identidade individual e na criação da mesma
para estas (crianças), sendo também importante o contacto com outras pessoas.
É
através de conceitos e critérios que se reconhecem e distinguem grupos étnicos,
o contributo destes grupos é decisivo, dando-lhes acesso a mecanismos que visam
a proteção dos seus próprios direitos.
“Identificação com a deficiência?”
Tem-se verificado uma grande cooperação entre as
pessoas com deficiência e pessoas surdas, pois estas ao longo da sua vida
têm-se deparado com algumas dificuldades e entraves. Algumas destas
dificuldades prendem-se como por exemplo o acesso à informação e à comunicação.
Existe
algo que é bem latente na comunidade surda: os surdos não se sentem
deficientes, pois enquanto possuírem uma língua rica, cultura e os meios de
resolver outros problemas (exemplo sistema para falar ao telefone),
sentir-se-ão realizados e completos enquanto cidadãos com os seus direitos
plenos, no entanto, se a sociedade não respeitar e aceitar a sua cultura, a sua
língua, a sua forma de estar, ser pressionado para reabilitação contínua (desde
que nasce até morrer), então, sentir-se-ão como deficientes.
“A surdez e a utilização da língua gestual”
Existem estudos que comprovam que a utilização da
língua gestual aumenta as competências espaço-visuais das pessoas ouvintes,
comparativamente com as pessoas ouvintes que não utilizam a língua gestual.
De
acordo com a afirmação anterior, pode-se verificar que a utilização da língua
gestual é uma cultura visual, e não uma cultura de pessoas deficientes assente
na perda de audição. Será importante relembrar que na fase inicial do
desenvolvimento da criança, esta utiliza quase exclusivamente a visual-gestual
e depois continua a apoiar-se neste tipo de comunicação após a transição para o
canal oral-auditivo.
As
crianças surdas não se sentem tristes pelo fato de o serem, são crianças
felizes e satisfeitas consigo próprias, a menos que a sociedade envolvente as
faça sentirem-se tristes e as façam sentir-se como diferentes. Note-se que a
surdez apenas é uma das inúmeras caraterísticas humanas que podem transportar
um conteúdo cultural, tendo por base uma língua.
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